terça-feira, 2 de dezembro de 2014

DA INSUPORTÁVEL DESTREZA DAS COISAS NÃO DITAS


O que eu digo não importa.
O que importa é a consistência do meu peso,
meu braço pendente forçando sua nuca.

O que eu digo subimporta.
Meus lábios sem fala,
quietude-abismo da mudez vingativa do que - tenso - não solto.

O que eu digo desimporta
- é meu eu dos dizeres, frases de amantes narrativas -
espécie de pouso mudo nos toques que não encontro.

Das coisas ditas de importância restaram-me somente três:
silêncio,
calância
e
zumbido

Do silêncio aprendi com as maritacas:
para saber quando irritam, é preciso compará-las ao não-som, à ausência do volume notado.

Da calância articulei com os belicosos:
cada gesto de meu corpo representa a prontidão precisa do alerta a qualquer instante.

Do zumbido desaguei com os canos:
a água borbulha-pressão na espera; os dedos que abrem torneira esporro.

Repara bem no ambidestro silêncio.
Pois o que já digo é matéria de banalidades cotidianas.



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