terça-feira, 15 de novembro de 2016

para Lais & seus metais [numa noite de terça-feira]

este metal (des)temperado
só se afia quando direto nos dentes
assola a guia canina
na elasticidade da gengiva
pende a língua
transposta de lado
saliva gordume
lubrificando a lâmina

metal sacado d'enxofre distinto
arregalo na boca
arregaço nos olhos
belisca pálpebra atenta
de não-mais-piscada
- se arrisca golpe
despenteia sobrancelha -

este metal mungunzado
já de lasca foi visto
forjado em riscas de fogo
ganhou fama quando em degola
- entrar ponta seca
enfiando todo resto pra dentro
dos orgãos -

este metal vagabundo
não é de hoje que tememos seu uso
- já andou metido em bandos lampiosos
- comeu léguas batidas em punhos que não arrefecem
- cortou mata adentro em lugares que tu nem imaginas
- desfilou solitário em cintura esguia aguardando os momentos

este metal das antigas
me diz muito do nunca em mim visto
traz enguia do passado
predispõe-se de saber futuro
do que-quer
mais num-quer
sufoca o pouco que resta
d'um respirar das antigas

este metal-você mesma
que sabe os momentos cortantes
usar de afiadas camadas
guardada em cintura perita
no que movimenta suas ancas

pr'além dos metais
se há 
-vem -
outras armas

é que a gente antes soube
que só defesa
não basta