domingo, 31 de dezembro de 2017

retesar
- pontas cheias -
novamente
os arcos


desde que
aplicação
calendário gregoriano
por cá nos trópicos

o ano
- parece que -
muda
mas por que lutamos
são motivos mesmos


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

é tão papo
escutar 
escritores dizendo que são escritores porque não sabem fazer mais nada da vida

é tão papa
ouvir
atores dizendo que são atores porque não sabem fazer mais nada da vida

tanta coisa da vida que não aprenderam
porque iluminação da arte
pega
é pra poucos
e dela não se escapa
não

e eu aqui
trinta-e-três - quase e-quatro - anos
sendo poeta e editora independente
mas sendo
tantas outras coisas na vida
- as que sou
e as tantas já sidas -
que este papo "não saber fazer mais nada"
é engodo pra ser descolado
pra gente acreditar em
::
talento
pré-destinação
toque divino
endeusamento
afetação-artística
egoviagem

e eu que já tanto sida
nos corres da vida
:
atendente vídeo-locadora
pesquisadora do metrô de casa-em-casa
entregadora de produtos automotivos
operadora de telemarketing
atendente de livraria
oficineira
programadora cultural
tá é difícil de acreditar nesse papinho
feito por quem garantiu espacinho
come dia come noite
e o que pega
: "ter que ser peão" :
quer aceitar não

porque a gente aprende
na lei da sobrevivência
mundo-capital
tu aprende a fazer o funcional
- tanta conta vencendo
- tanto a cidade exigindo
- tanta barriga sem nada
- tantos os lábios já secos

a gente aprende
não na síndrome
"não sei fazer mais nada não"

a gente aprende
no que trampa mesmo
ainda que tenha por trás patrão


terça-feira, 12 de dezembro de 2017

{ são quatro as irmãs }

foto: Adilson Pacheco

são quatro as irmãs
num total seis somadas a mais cinco guris

sabem ser verão
herdado da façanha mãe-delas | avó-minha
a gerar onze fortes sujeitos chegança ao mundo primeiro quando ela dezesseis anos menina

são verão
mesmo quando montante da vida quis ser rígido inverno
a congelar corpo nutrido 
empalidecer as finanças
esfriar os possíveis

fazem verão
beira-piscina
na ausência de infância passada
: beira-mar
não contemplada em passeios crianças dado custo de vida
- onze pequenos não se carregam assim facilmente pras férias

e são braços que alargam
buscando abarcar extensão de vida
de tudo que nunca coube nas mãos
mas que se amplia em miradas que enxergam ao longe
no além
de

são quatro as irmãs
:
semelhanças se fazem
nas bermudas aquáticas
nas blusinhas-senhoras
nos chinelos à vontade
nas canelas despidas
e
no tanto
corrido nas veias
das histórias já tão
que
- no perto -
são elas mesmas contínuas






segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

ANGELUS NOVUS EM TRÊS MOVIMENTOS + ANTE-SEGUNDO



"[...] Essa tempestade o impele irresistivelmente
para o futuro, ao qual ele vira as costas,
enquanto o amontoado de ruínas
cresce até o céu [...]"
Walter Benjamin


I.
de olhos feitos
| bem abertos |
ao atrás
buscando no antes
- acontecidos tempos -
pulso que desfaz flacidez-decrépita progresso
pra escapar d'ordenado secular mercantil d'vidas
e desaprender histórico criado
há que
:: nosotras mesmas ::
catatonar montante do que contam narrativas
e refazer histórias agora das que vencidas

ante-II.
vanguarda retardatária
- recomendado recusar olhos-adiante
olhos-adiante segredam às vistas o virá destruição

II.
é enxergar no pré
desfalecer existência
de tudo que num tempo
seremos o nada
só-pó esmagado na terra
que é pra semeia
o novo que não é a gente não -

III.
sobrevivida do passado
desafia supraviver é do próprio futuro
quando o dado de que seremos morte
se faz rascunho do que ainda somos vida
-
e d'entonar a cada cântico
saber que dissolvem-se
múltiplos
fragmentado anacronias
pois que do tempo
vivemos
 a torso do barco da História
que
- ao saber catastrofia -
filia à vista um ponto
a ser narrativa
grafia



[ "Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso" - Sobre o Conceito de História, Walter Benjamin ]