quarta-feira, 26 de julho de 2017

ENGOLINDO O MUNDO COM NOSSOS CORPOS

foto: Sheila Signário

engolida das palavras do mundo:
-o que de meu silêncio foi bocadentro naquele membro que come?


conjugação do verbo
:::
parir

eu paro um cotidiano
desejado inverso
no que
__ traço __
cartografia
de cada falange
tocando meu corpo
no onde
possessivo { meu }
não desalinha
pronomes { nossos }

eu paro uma cartilha
n'exercício d'explicação
ao mundo
de todo um como¹ ² devido
¹advérbio indicado maneira|modo
²conjugação verbo; sinônimo [quase] de engulo

eu paro um novo corpo
que de princípio
é meu o mesmo
- de sempre -
no qu'agora ressignificadas
:::
texturas
volumes
gorduras

eu paro uma vênus que é negra
amor esbaldado azeviche
consistência se faz
passe livre
funkcizando
catracas que travam

alinhavo minhas
:::
mãos
bocas
coxas
barrigas
pés-firmes
todo volume
e u
p o r
i n t e i r a
a l a r g a n d o
e s t e n d e n d o

eu paro um abajur cor de carne
bem aceso momento meu gozo
minha pele pegada mãos suas
eu me vendo
- em luz viva -
ser sexo 

eu paro,
no tanto,
- não cabe -
verbo este que não existe
conjugação língua portuguesa

no parir
:
eu paro
tu pares
ela pare...
nós que somos movimento do mundo
turbina
motores
arrancos
não paramos a revolução

nós...
{ conjugação existindo somente em plural }
parimos
com canela-e-açúcar

nós...
parimos
nossa
ZONA AGBARA


segunda-feira, 24 de julho de 2017

...onze anos me espera...


sol quase tombado poente
nem sei que lua alumiava céu

mas para tu pouco importou
-tombo te levando fim de tarde
meio rua
no ir embora sem saber dos astros

nós casa aguardo
espera de chegança sempre
- mãos cheias produtos revenda -
para pedido d'esfiha
pois sexta-feira assim era

mãos minhas tinha kundera
insustentável leveza do ser
- livro este nunca mais retomada leitura
literatura já não mais sentido
quando d'arranco se vãos as vidas
-ida sua no repentino

de tempos idos
- e já são anos os onze -
mirar imagem das antigas
como quem cavuca nas lembranças
algo que não encontra por completo
em nervos paredes-da-mente

- parece (des)aparecido os concretos
mas ainda tem tu batendo em afetos

-tu nesse olhar 'trás dos óculos
-nessa barba esconde internos
-o rir da sanfona que nem tocava
-mas a olhava por longos
recordando em menino os desejos

por vezes retornado em lampejos
de saber que corpo pressente mais que memória

o tempo-perverso
devastou tantas lembranças
dessas que valem a vida
e emborcou espaço para
aleatoriedades várias que crio

primeira vez esta
materializo eu tu em escrita
d'um dia que nunca mais retornado em detalhes
d'uma vida que exigiu/exige corridas várias cidades

só que o tempo(também)-generoso
e é pai...
saiu poema pra tu.
que,
sim,
nem dizia em palavras
inspirações qu'eram vidas.




quarta-feira, 5 de julho de 2017

Tríptico da Coragem + Interno Destoante

| i. acidez |

reconhecidos privilégios
não lavadas palmas-mãos
- deixemos-as para as firmezas de agarros no porvir -
- em após -
posso
ainda reclamar do que tenho?

| ii. esvaziada |

consciente que tenho peito
na mesma medida que tenho lágrimas
- um bombando gotícula ao outro
duplo-fluxo-contínuo
se faz
coexistência

| iii. insubmissa |

por saber de aparência
ser pralém performativa
corpo faz-que atua vida
mas tá que sangrando nas beiras
criando pocinhas nas rugas internas

| iv. baque |

alerta
!
que tiro-vem-bomba
não salva quem corre insuspeito
é preto recebe no peito o rajado
emboscada na mata
destemido não salva
ser mestiço ou retinto
a polícia
ela
¬m¬
¬a¬
¬t¬
¬a¬