segunda-feira, 27 de novembro de 2017

[ a que serve ]

quem pensou que tudo acabaria num cometa
num vulcão
num raio que o parta
errou

errou porque ainda tem mais pra acontecer
errou porque taí,
vivinho,
com este corpo transitando existência

a língua minha
- que era pra ser pátria -
falhou
| ah, a potência das falhas! |
fez linguadas palavras
que eu não me doo em linguagem

linguagem esta
que é
troca
é roçar língua-com-língua bem mais que criar semânticas
é montante vocábulos soltos
construção de léxico mesmo
- isso tudo que se faz no cerca -
e não no estudo episteme que criam oratórias
retóricas
comportamento falante
que nada entende do que compõe oralidade

linguagem mesmo é ver Inês vasculhando boca sem dente que conta do tanto vivido
é ver Vicência apertar as trancinhas a dizer de tempo menina
é ver seu Dito explicando cadeira-plástico-calçada como era quarteirão que hoje só passa carro

pra tanto conjugar certinho
que bobagem!
palavra é pra comer
digerir
enfiar no cu
que aí brota a que serve
co mu ni ca
as ideias

per ma ne ce





sábado, 25 de novembro de 2017

[ escritas nomes :: ancestrais ]

(escrita tio Cid dada a mim em nosso último encontro - Festa do Rosário dos Homens Pretos, bairro da Penha, junho/2017)

[ escritas nomes :: ancestrais ]

tempo é rega
dando nomes pras carnes que nascenças
- geração trás geração -
a formar conjunto vivente
do que constitui dizer família

do que morta-carne hoje manhã
tio Cid, o mais velho
{ancestralidade pai}

- das sabedorias que confirmam ciclos
- das generosidades de aproximações
- das belezas de vida no singelo
- das pesquisas ancestrais a trazer informes de
quem fomos,
quem somos,
donde viemos

de quando em rasgo-encontro histórico trouxe tio Cid palavras de que ancestralidade Candido, que é pai de pai meu, nasceu em Manga - nas lidas das Minas Gerais - ali margem-esquerda de fortificado Francisco, Francisco; ele, o rio.
e que pai-Candido, Feliciano que é bisavô meu, era é de Carinhanha, terrinha Bahia, também margeado Velho Chico, à esquerda, mais nordeste  - do que vinham rotas-ao-sul até chegada São Paulo; das promessas progresso.
negro ele, retintinho; casado com branca Vicencia, bisavó minha.
da Silva os sobrenomes, pra traçar assim típico-brasil-escravizante nomeando aportuguesa as descendências d'áfrica.
pesquisa atual era ancestralidade mãe, avó minha, Esmenia ela; esse nome meu duplo-acompanhado que impõe potência nos caminhos que fibro. mãe e pai espanhóis, bisas-minhas, cenário Labirinto do Fauno fugidos de lá guerra civil espanhola, chegança interior São Paulo; Avanhandava cidade.

nos quase oitentas
lá vai tu sem vida-carne
mas com tanta vida-rega
fincada na história 
- a prosseguir descendências -

e são tantas bárbaras e rafaels e déboras e luiz fernandos e ivanas e marcos e carlas e renatos e elias e agathas e vanessas e mônicas e betos
que descendência erguida-está
no que 
| contínuos |
seguimos viva/os
a saudar você-histórico





terça-feira, 21 de novembro de 2017

foto: Daisy Serena


não que o retilíneo não nos agrade
- habita nele qualquer coisa de padrão que se faz sufoco pros ondes andamos; pros ondes miramos; por ondes corpóreas qu'estamos
{ vivas
{ firmes
{ inda-pé

desgolpear vistas na secura atrai descolamento-retina a mando tri-ângulos decoloniais
- hay que haver otras miradas
- otras geografias
- otros talhares

não tergiversa viseira quando nós
/ em diágonos /
somos todas
pois que três corpos no espaço
- aquém gravidade -
é sustância pro tempo
fazer dele
nós mesmas