quinta-feira, 26 de junho de 2014

UM FLERTE COM LEMINSKI

Aqui se faz, aqui se praga
a corroer os escaninhos.

Se me rogas
Não nem alastras
Este que chamam
capetivino.

Que foi em Praga
que praguejastes
lascívias, gozos,
dívida externa.

No bolso meu
já nem não cabem
que custo deu
foder com o seu.


terça-feira, 24 de junho de 2014

ESTREIA COMO COLUNISTA DO SITE DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL PERIFERIA INVISÍVEL

Hoje estou iniciando minha participação mensal como colunista do site da Associação Cultural Periferia Invisível:

REMENDANDO OS ATALHOS: É NÓIS

A Copa chegou.
Quem disse que ela não vinha?
Veio embarcada nas lanchas, iates, naves espaciais.
Tomou voo primeira classe,
desembarcou terceiro mundo.

Usurpou os territórios,
explorou classe operária,
derrubou constituintes.

Fez com que os malditos telões de plasma da linha 4 amarela - aquela privada que 
muitos se felicitam porque não entra em greve - passasse de minuto a minuto cretinos 
informes que nos desinformam.

A Copa, ela não vai embora,
Deixará o seu legado.
Aluguéis exorbitantes,
pessoas desabitadas,
Cardápios inglês-português,
Marcas nos corpos das garotinhas.

A Copa.
ah, mas esta Copa sagaz-capaz,
como ela sabe fazer social,
vender sua própria imagem,
sorrir na capa da Veja,
Gastar jato de tinta verde-amarelo a colorir as impressões das revistas.

A Copa.
Ela fez-nos ouvir dizer que Itaquera é, agora, o centro do mundo.
Ora, Veja(m) só vocês, somos in-ter-na-cio-na-is!
Mostramos nossas cores multiétnicas,
Apresentamos na tela nossa periferia,
Desmistificamos nosso abrigo selva,
Fomos além da Amazônia,
Oh god, it's not only a jungle!

Estamos na crista da onda, baby.
Zona leste é nóis, mermão.

É nóis.
Vai explicar isso para o de fora,
o estrangeiro,
o estranho,
desconhecido.
It's we - lolololo -
Est nous - héhéhé -
Es nosotros - jajajaja -
Ist wir - hæ hæ hæ
είναι εμείς - xaxaxa

Mostra para estes bolhas o que é é nóis.
O é nóis periférico,
É nóis da quebrada,
É nóis becos e vielas,
É nóis da pele preta,
É nóis na boca do povo.

Não vem você enrolar a língua querendo ser o descolado.
Não vem você que aprendeu o português “correto, erudito” nos colégios que fazem 
“as melhores cabeças” que aqui tu não tem vez, mané.

Se eu digo é nóis,
é porque a frase está incrustrada na geral,
penetrou em nossa pele,
remexeu nossa linguística,
cuspiu pra fora a limpeza hegemônica do bem falar.

Olhem para é nóis agora,
Somos o centro falido,
Fruto global-neoliberal,
o núcleo mundial desta Copa oficial.

Estão todos de olhos na gente.
Aproveita... vai lá.

Somos bacanas, meu bem,
Tudo é divino-maravilhoso,
estamos em todas as telas.

Não é esta a era midiática?
Sociedade do espetáculo?
Presença constante do Grande Irmão?

Agora o resto do que virá.
Já que somente nos restarão os retalhos.
Retalho-legado,
Retalho-engomado,
Retalho-atalho,
Retalho-o-caralho.

-A gente não é pano-lixo não.
Estamos acostumadas a costurar as nossas sobras,
remendar os nossos trapos,
esfregar a gola esgarçada,
pendurar nos varais somente a dignidade da luta.

- Somos sujeitos periféricos -
Somos mulheres e homens.

De retalho a retalho,
pedaço por pedaço,
- pode crer -
a gente vai reconstruindo nossos braços sempre armados.


segunda-feira, 23 de junho de 2014

QUANTO VALE?

Mandou compras cigarros.
-Pois que compre tu, seu-seu-seu-seu...

[o xingo pichado no muro da garganta.
Quis gritar milhões de letras amontoadas.
Não se lembrou se V de vaia é sibilante ou fricativa.
Foi procurar guia gramática formato livro.
Não encontrou.
Ligou máquina computadora,
acessou virtualidades,
aba pesquisa digita-procura,
indagou mestres da nuvem.
-Ah, mas é claro!]

Voltou para gritar consciência correta estado gramática;
 sem violentá-la;
transgredi-la;
rasurá-la;
rememorando as boas aulas comportado na carteira do colégio branco particular.
"V-labiodental-fricativa, repita comigo, Pedrinho"

Na sala de estar, em frente ao pai preparado ao grito, antes que a letra consciente escapasse de seus lábios, pode ver pela janela sua irmãzinha-menina apertando firme o dinheiro na mão direita, subindo a rua em silêncio a caminho do bar.



quinta-feira, 5 de junho de 2014

das deixas

Deixou as cinzas do cigarro espalhadas pela cama
Deixou a bituca quedacaindo no chinelo de dedo
Deixou o cinzeiro semi vazio em cima da escrivaninha
E saiu pela janela a ser fumaça nos aires



terça-feira, 3 de junho de 2014

dia sem fim

Menina escorre no gargalo do abismo
ensaia o salto - estaca à borda
correu frenética até o talo
bisolhou a queda livre
bisolhou a altitude
bis dois olhos
mansos
negros
puro
gás
na
f
ta
li
na
.
.
.
.
.
.
.
é
ar
é gás
brisas
e sopros
ensaia a vida
- fragmentada -
carrega os galhos
escrava e escopo
deste sem fim desconjuntado
a-menina-corre-salta-pula-é-queda
/
/
/
/
/
/
/
/
Era só um dia morno
dia velho dos infernos

-Menina, o dia acabou, volta pra casa.




domingo, 1 de junho de 2014

ME COM-ME

arte: Annie Gonzaga

toca-me ao querer-me
ao tocar-me me-desperte
se me tocas menlouquece
me temer-me
mestremece