terça-feira, 24 de junho de 2014

ESTREIA COMO COLUNISTA DO SITE DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL PERIFERIA INVISÍVEL

Hoje estou iniciando minha participação mensal como colunista do site da Associação Cultural Periferia Invisível:

REMENDANDO OS ATALHOS: É NÓIS

A Copa chegou.
Quem disse que ela não vinha?
Veio embarcada nas lanchas, iates, naves espaciais.
Tomou voo primeira classe,
desembarcou terceiro mundo.

Usurpou os territórios,
explorou classe operária,
derrubou constituintes.

Fez com que os malditos telões de plasma da linha 4 amarela - aquela privada que 
muitos se felicitam porque não entra em greve - passasse de minuto a minuto cretinos 
informes que nos desinformam.

A Copa, ela não vai embora,
Deixará o seu legado.
Aluguéis exorbitantes,
pessoas desabitadas,
Cardápios inglês-português,
Marcas nos corpos das garotinhas.

A Copa.
ah, mas esta Copa sagaz-capaz,
como ela sabe fazer social,
vender sua própria imagem,
sorrir na capa da Veja,
Gastar jato de tinta verde-amarelo a colorir as impressões das revistas.

A Copa.
Ela fez-nos ouvir dizer que Itaquera é, agora, o centro do mundo.
Ora, Veja(m) só vocês, somos in-ter-na-cio-na-is!
Mostramos nossas cores multiétnicas,
Apresentamos na tela nossa periferia,
Desmistificamos nosso abrigo selva,
Fomos além da Amazônia,
Oh god, it's not only a jungle!

Estamos na crista da onda, baby.
Zona leste é nóis, mermão.

É nóis.
Vai explicar isso para o de fora,
o estrangeiro,
o estranho,
desconhecido.
It's we - lolololo -
Est nous - héhéhé -
Es nosotros - jajajaja -
Ist wir - hæ hæ hæ
είναι εμείς - xaxaxa

Mostra para estes bolhas o que é é nóis.
O é nóis periférico,
É nóis da quebrada,
É nóis becos e vielas,
É nóis da pele preta,
É nóis na boca do povo.

Não vem você enrolar a língua querendo ser o descolado.
Não vem você que aprendeu o português “correto, erudito” nos colégios que fazem 
“as melhores cabeças” que aqui tu não tem vez, mané.

Se eu digo é nóis,
é porque a frase está incrustrada na geral,
penetrou em nossa pele,
remexeu nossa linguística,
cuspiu pra fora a limpeza hegemônica do bem falar.

Olhem para é nóis agora,
Somos o centro falido,
Fruto global-neoliberal,
o núcleo mundial desta Copa oficial.

Estão todos de olhos na gente.
Aproveita... vai lá.

Somos bacanas, meu bem,
Tudo é divino-maravilhoso,
estamos em todas as telas.

Não é esta a era midiática?
Sociedade do espetáculo?
Presença constante do Grande Irmão?

Agora o resto do que virá.
Já que somente nos restarão os retalhos.
Retalho-legado,
Retalho-engomado,
Retalho-atalho,
Retalho-o-caralho.

-A gente não é pano-lixo não.
Estamos acostumadas a costurar as nossas sobras,
remendar os nossos trapos,
esfregar a gola esgarçada,
pendurar nos varais somente a dignidade da luta.

- Somos sujeitos periféricos -
Somos mulheres e homens.

De retalho a retalho,
pedaço por pedaço,
- pode crer -
a gente vai reconstruindo nossos braços sempre armados.


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