terça-feira, 12 de março de 2013

CHÃO DA MINHA TERRA

Hoje é mais um dia
Fincarei meus dedos no chão da minha terra,
Debulharei o trigo,
Colherei abacates nos pés de manga.

É refazenda.

Não se passa um dia sem que eu,
unhas sujas,
não encare Gaia.

Nenhum dia é passado sem que eu,
pés descalços,
não ouça o retumbar de meu peito.

Aqui ecoam gritos de milhares.

Eu, Anita, a carregar as pedreiras do mundo.
Anita-mulher-rocha-sobre-rocha,
a arder num sol que impede
o rolar das águas de março.

O verão não fechou,
As gotas de chuva secaram,
O salário é minguado e o suor de meu trabalho
não trouxe a revolução.

É novo tempo de espera;
Tempo-sólido-pedra-sobre-pedra

Um martelo que bate,
um facão que atravessa,
uma serra que encerra
os limites da mata espessa.

Semi-árido-extra-seco do sertão
(não era este um país tropical?)

De volta o novo dia:
lá estão meus dedos ásperos a arar a terra

-meus dedos móveis enlameados a cozinhar o trigo esparso do jantar

-Pois venha, Joana, venha comer, minha filha

: mesmos dedos passíveis de apertar o gatilho

: guardo em mim o ímpeto rebelião

: por ora, é torcer para que os milicos não apareçam

: e praticar [tiro ao alvo] sempre

: -Quem disse que os donos da terra vencerão novamente?



Nenhum comentário: