segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

WALT WHITMAN, MEU PENSAMENTO EM TI



Walt Whitman, meu pensamento em ti.

desço à beira das colinas, bem ao modo como tu me ensinastes.
no entanto eu nada enxergo.

Estou cega, meu poeta.

Você que me ensinou a olhar para os lados sem me esquecer do atrás e do adiante.
você que me fez me lembrar de todas e todos - feminino e masculino, como você, vanguardista poeta, verso-livre-livrou.

Esta manhã, em frente à janela, observo um mundo de abismo diante de mim.
seus versos correntes, soltos e longos, suas aliterações, seu encadeamento de livre-pensar ainda teriam espaço nos dias de hoje?

A resposta é sim, caro velhinho.

Você está contente por isso?
se satisfaz?
sente a brisa ondular suas cãs?

Ou, quem sabe, talvez preferisse o abraço de amantes nos corredores das estações.
Dejetos de esgoto abraçando mendigos nas vielas.
Uma criança que nos pergunta o irrespondível.

O que prefere, meu amigo?

até eu, meu senhor, até eu me embaraço nas preferências.
(- por vezes a vontade é mesmo seguir Bartleby em sua vidinha mais ou menos -)

mas foi você quem me ensinou a seguir assim, viajante de mim e não parar nunca mais.

Não parar nunca mais.

Observo sua barba.
seu olhar melancólico.
sua tez acentuada.
a fina elegância de um traje que não compactua com sua poesia.

É para ti que eu canto esta canção.

Canção de mim mesma?

Me deite na relva.
Me deixe vadiar.

Só não permita que ela cubra meu corpo e que lá eu permanece etérea, eterna.

é para a vida que você cantou.
e é dela que eu necessito.

"Pois depois de partir não vamos mais parar"



sábado, 16 de novembro de 2013

VER E MIRAR - CONTEMPLAÇÃO DE UNS OLHOS MEUS (da série Fragmentos do corpo)



É olho antigo de quem muito viu.

Negrume pelota a penetrar a imensidão de um branco perdido;

Esfera infinda a contemplar os movimentos do mundo
de quem crê - descrê - persiste - insiste

[se o olho da verdade soubesse seu potencial exato, quanto de nós restaria?]

A vida cíclica de girar os andaimes do mundo

Mirada apopléxica de uma veia que bombeia

- Eu vi os mundos caindo sobre meus ombros -
- sobrevivi -
- Eu vi os dejetos de quem submergia do antro -
- sobreviveram -
- Eu vi nos imundos dos becos lembranças antigas de tempos originários -
- sobrevieram, regressaram, não mais voltaram -

-Parem agora. Para que prosseguir se o tempo que resta é o tempo frágil de um instantâneo olhar-mirada?

A possibilidade do infinito nos impõe às cegas

Vejo com meus dedos, meus poros, meus fios de cabelo, meus cílios-pentelhos

Ver a vida com veracidade de quem acredita

- como quem reza baixinho, de olho fechado, e jura ver além do concreto-materialista-

"por ora me mira. me mira-mirada na morada do mar"



quinta-feira, 19 de setembro de 2013

DAS ILUSÕES COTIDIANAS

O domingo pela manhã me levou o vento
Bateu flutuante pelas frestas, arrancando o pôster pendurado na parede da garagem.

Era vento-redemoinho
Desassossego corsário de um dia sem fim.

Era vida cotidiana.
Vida besta dia-pós-dia.

Nos encontrávamos nos momentos mais banais
As gotas cortando o asfalto
Suores respingando banalidades
dias-horas-meses-possíveis-anos de uma eternidade que quis ela possuir

Era pequena ilusão perdida
O velho Balzac martelando na cabeça;
-o título de um livro que nunca nem folheou -

Era vivência de uma possibilidade
Mais uma tentativa de um ato falho que cismava em se prolongar
-a cadência de um membro que não cessa seu movimento -

Era a perda de uma esperança
E a lembrança da fatalidade da vida

- o recordar que, sim, um dia tudo se vai -


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

MÍDIA DEMOCRÁTICA ENQUANTO ESCRITA DA "HISTÓRIA A CONTRAPELO" (ESBOÇO DE UMA REFLEXÃO)

Atitude muito utilizado ao longo da trajetória de dominação da classe reinante como tática de manutenção do poder, o desaparecimento do registro de fatos históricos que concerne à possível ruptura e destruição de um status quo deu-se sempre como prática naturalizada no decorrer dos séculos.

Tendo em vista que o estudo da história da humanidade se apresenta majoritariamente como o estudo das classes no poder, contado sempre do ponto de vista do vencedor, nada mais coerente com os ideais hegemônicos vigentes do que a ação de queima de arquivos do metrô praticada por tucanos desejosos da continuidade de historicização dos fatos sobre o ponto de vista de quem rege o poder.

No entanto, se esta análise da história contada sempre pelos vencedores, apontada por Walter Benjamin em seu texto Sobre o conceito de história, funciona indefectivelmente em toda a história da humanidade até o momento em que Benjamin a publica, em 1940, a explosão das tecnologias e, sobretudo, o uso da internet demonstra a possibilidade de, mais do que nunca, se"escrever a história a contrapelo" - tarefa a qual compete um verdadeiro materialismo histórico.

Apesar deste processo muitas vezes não se dar de modo consciente, o fato é que a velocidade de se espalhar as notícias sobre a queima de arquivos via internet gera um conhecimento e possível reflexão ampliada sobre o assunto. A partir daí, uma possível cobrança e questionamento sobre o fato se torna mais apresentável.

O que trazemos aqui não é nada novo, na medida em que é de conhecimento geral a abertura de alcance e democratização oferecida pela internet. No entanto, o que queremos chamar a atenção é o fato de que esta ação permite contar a história não mais, ou não somente, pela manutenção do ponto de vista dos vencedores, mas sim como escancaramento das ações não-éticas destes, permitindo trazer à tona uma contradição inerente a tal poder hegemônico, incitando um novo olhar ao que encontramos atualmente estabelecido.



terça-feira, 3 de setembro de 2013

PARA A PRÓXIMA TEMPORADA

Era matéria de desacontecimento.
O corpo beirando o extremo.

Você que chega no esmiuçar da noite.
Fala baixinho para não me deixar captar o grau de tolerância contido em seu sussurro.

A vida poderia ter sido.
Naquele momento - sim - ela poderia ter sido um infinito de possibilidades que nos escapou por entre o cotidianizar de ex-novidades.

Você suspira.
Eu silencio.
Gosto deste teu jeito de tornar suspense um fato leviano.

Eu que não sei quase nada do que fomos.
Corremos feito cavalos bravos por entre as selvas desmatadas.

Desta vez eu não vou escapar.
Desta vez eu não posso escapar.
- e talvez eu mesma não queira -

Se você vem, com que mãos conseguirei dizer que parta?

O bom mesmo é adiar a chegada.
Ins-tan-ta-nea-men-te.

E torcer para fazer sol na próxima temporada.

Oxalá nos reencontremos.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

ANARQUIA E FRAGMENTAÇÃO DA LINGUAGEM: ECOAMENTOS DE MALLARMÉ NA POESIA DE WALY SALOMÃO

[por Bárbara Esmenia]


"A memória é uma ilha de edição"
Waly Salomão


Na década de 1970, arrebatada/os pelas transformações culturais e políticas, a/os nova/os artistas brasileira/os, emergida/os da inovadora década de 1960, criadora/es da arte surgida do pós-guerra - por mais espectadora/es que fomos de tal fenômeno - e da ditadura civil-militar vigente, em uma ânsia e certo mal-estar da vida desiludida desta segunda metade do século XX, debatem-se na escrita entre a criação sucessora do Modernismo, de todas as vanguardas europeias que já haviam fragmentado a linguagem, desperdiçada qualquer lógica coerente que não fosse o somente expressar-se, que abolisse o princípio fundamental do dadaísmo de que "o pensamento nasce na boca". Quando pensa-se em falar, já foi. Verbalizou-se. Por mais incompreensível que seja.

Em termos filosóficos, aclamava-se o pensamentos, sobretudo, de Jean-Paul Sartre e seu Existencialismo, na justificativa do ser em sua condição libertária e subjetiva, sendo que a existência, como definiu o próprio Sartre, "precede a essência".

Nessa rabeira, bebendo influenciadoramente, surge o teatro pós-dramático europeu, sendo mais representativo o que se denominou "teatro do absurdo", termo dado pelo crítico Martin Esslin em livro de 1962, a fim de reunir dramaturgos de um mesmo período que vinham abolindo a coerência lógica e tradicional da arte dramática, dando espaço ao fluxo de consciência inaugurado por James Joyce, reduzindo a linguagem ao simples tartamudear, isento de sentidos.

É significativo também o ensaio seminal de Albert Camus, de 1942, intitulado O mito de Sísifo: ensaio sobre o abusrdo, em que o filósofo apresenta a condição humana como taxada à repetição de gestos que não levam a resultado algum, tendendo a um sentimento enganador de realização que não se completa enquanto justificativa da existência.

Anterior a toda essa explosão criativa da segunda metade do século XX encontramos no final do século XIX a/os predecessora/es deste teatro do absurdo que teve, certamente, como seu maior representante o irlandês Samuel Beckett, com o marco de 1952, Esperando Godot. Os franceses Alfred Jarry e Jean Cocteau já prenunciavam certa quebra da curva dramática, antes mesmo do que fez o dadaísmo em seu Cabaré Voltaire, o surrealismo em suas soirées ou mesmo o expressionismo de George Kaiser e sua trilogia Gás.

Jarry, principalmente, é o que cria em 1896 - data importante a ser guardada posto que será retomada ao chegarmos em Mallarmé -, a peça Ubu rei. Desinteressado de uma representação com fé na verossimilhança, o que Jarry nos traz em cena é a crueza de uma montagem destituída de cenário, aos moldes do minimalismo que se refletirá na linguagem. Apresenta-se um ator montado em um cabo de vassoura que representa toda a tropa, um ator que porta um cartaz representando todo o regimento, as falas, em confluência com a estética, também não se propõem ao 'contar de uma história'. Máscaras são inclusas no objetivo de despersonalizar qualquer identificação por parte do público.

Apesar destes procedimentos pressuporem uma aproximação com o que será o teatro de forma épica de Brecht, ao menos na encenação, o que se propõe é completamente o inverso, já que, enquanto o dramaturgo alemão necessita do distanciamento a fim de se gerar a reflexão crítica, neste teatro propõe-se mais o rompimento puro e simples das formas pré-fixadas, sem preocupação com a consciência social

Retornando à data de 1896, e buscando justificativas a toda esta introdução teatral absurda, chegamos ao cerne desta escrita.

E por que 1896, ano de criação de Ubu rei?

Porque é justamente no ano seguinte, 1897, que, também na França, o poeta Stéphane Mallarmé, publicará na revista Cosmópolis, o poema Un coup de dés jamais n'abolira le hasard (Um lance de dados jamais abolirá o acaso.

O que faz Mallarmé com a forma da poesia, fragmentando suas partes, lançando-as no papel como quem monta um diagrama, atestando a crise do verbo e da linguagem, é certamente a defesa mais audaciosa de um poeta que está "em greve perante a sociedade" (Campos, 2010, p. 27)

Mallarmé recorre ao fazer poético como temática principal de sua criação, envolvendo a preocupação com o modo de distribuir as palavras no papel. Papel este como objeto-suporte da poesia, em caráter sine qua non para que a arte poética exista, possa expressar-se.

Conforme atesta Haroldo de Campos (2010, p. 26), Mallarmé recorre à "denúncia da falácia e das limitações da linguagem discursiva para anunciar, no Lance de dados, um novo campo de relações e possibilidades do uso da linguagem, convergindo a experiência da múscia e da pintura e os modernos meios de comunicação, do 'mosaico do jornal' ao cinema".

Ao buscar uma aproximação do poeta francês com a/os poetas brasileira/os por conta de certa influência significativa, nada mais justo pensar estarem nossa/os poetas inserida/os na era do audiovisual, em que, após o surgimento do cinema, do qual Mallarmé vê nascer quase no mesmo ano da publicação de seu poema seminal, é impossível dissociar palavra/linguagem de imagem; uma é recorrente à outra pois o século XX foi marcado, sobretudo, por esta eclosão da chamada sétima arte, a arte cinematográfica.

Década de 1970. Brasil. Estamos no auge do Cinema Novo. Glauber Rocha na década de 1960 criara seus melhores filmes, já ocorrera os festivais de música, a Tropicália já causara em seus melhores momentos a agitação da cena nacional, o Teatro de Arena e o CPC da UNE transformaram a cena teatral, a ditadura civil-militar fechara ainda mais o cerco após a barbárie do AI-5, de 1968, e um multiartista, baiano por nascimento e excelência, lança um livro um tanto quanto inovador em sua estrutura que mistura poesia, prosa, relatos, ou mesmo todos juntos sem preocupação com as classificações literárias, escrito dentro das celas do Carandiru, em uma estadia na qual foi o autor levado por porte mínimo de erva. É este sujeito a mistura sírio-sertaneja chamada Waly Salomão, que lançou em 1972, assinando como Waly Sailormoon, seu Me segura qu'eu vou dar um troço.

Marco da poesia experimental, o livro destaca-se por sua escrita fragmentada, totalmente anárquica e iconoclasta, moldado por relances e mosaicos de palavras que, por vezes, pode nos parecer um simples jogar aleatório de frases, letras e sonoridades, lembrando mesmo o modo de criação dadaísta, na junção de palavras ao léu recortadas de jornais e revistas e reunidas aleatoriamente.

O que a França simbolista da virada do século XIX para o XX pode significar a um poeta rebelde, reivindicador de uma cultura autenticamente nacional parada nas décadas de 1960 e 1970?

Pois é justamente graças a esta inovação poética proposta por Mallarmé que foi possível o desabrochar dos movimentos de vanguarda nacionais, desde o Modernismo até a contemporaneidade. Senão diretamente, enquanto influência reconhecida, percebe-se com sutileza estas pinceladas de suas características.

E em Waly, esta confluência é observada, principalmente na forma adotada para dispor seus poemas nas páginas. Em trecho de Fêmeo-fêmea, a utilização do espaço em branco da página é esquematizada do seguinte modo:

FÊMEO-FÊMEA

Alhures,
                todo me vibro em tudo

Aqui,
                   poderei decalcar o
                                                          Q
                                                                               é fugaz?

Racontar
              rapsodiar
                                te me apreender

Prender e soltar numa clareira-narrativa

(Picada aberta na floresta amorfa)

E comandar:
                       -PASSE, carne colada ao envelope
                          Da placenta
                       -PASSE, fragmento encharcado nos
                          Líquidos placentários

Como
           te
                 me
                        desprender?

Como???


Do mesmo modo, Mallarmé inicia a cadência de seu poema apropriando-se do espaço dispositivo da página a ser disposta as palavras - quando não somente sílabas ou letras soltas.


RIEN

                    de la mémorable crise
                                ou se fût
                                         l'évènement
accompli en vue de tout résultat nul
                                                      humain
                                    N'AURA EU LIEU
                                  une élévation ordinaire verse l'absence
                                                                               QUE LE LIEU
Inférieur clapotis quelconque comme pour disperser l'acte vide
                                        abruptement qui sinon
                                     par son mensonge
                                                    eût fondé
                                               la perdition
dans ces parages
                             du vague
                                                en quoi toute réalité se dissout


[tradução: NADA / da memorável crise / ou se houvesse / o evento / cumprido em vista de todo resultado nulo / humano / TERÁ TIDO LUGAR / uma elevação ordinária verte a ausência / SENÃO O LUGAR / inferior marulho qualquer como para dispersar o ato vazio / abruptamente que senão / por sua mentira / teria fundado / a perdição / nessas paragens / do vago / onde toda realidade se dissolve]


Estes dois poemas podem ser vistos como "poemas-estruturas", partindo do pensamento organizacional dos poetas que decidem primordialmente a posição das linhas tipográficas na página, escolhe com rigor os espaços a serem deixados em branco que encerrarão significado decisivo ao visualizar-se o poema.

A montagem ideogramática idealizada por Mallarmé ecoa substantivamente na proposição estética exercida por Salomão, tornando-se "um estilhaço arrancado à crônica de sigismundo malatesta, um aforismo extraído dos analectos de confúcio, excertos da correspondência de jefferson ou de john adams, reminiscências pessoais do poeta como as de seu aprisionamento no campo de pisa, interagem polarizados em cadeias de relações, desenhado o organismo geral do poema", conforme nos atesta Haroldo de Campos, porém desta vez referindo-se a outro grande influenciável por Mallarmé, Ezra Pound. 

O ideograma é proposto como síntese do discurso verborrágico, no tocante a que se refere ao minimalismo da afetação verbal em preferência à simbologia, em decorrente sincretismo da poesia com a arte visual. Já não há necessidade do uso da pontuação. Despreza-se a gramática coerente, a gramática moldada nos rigores acadêmicos, uma vez que é o espaço gráfico a pontuação necessária, o elemento 'negativo' de uma versificação estrutural. Para Salomão, nada é sistematizado enquanto criação poética. Coloca ele no papel o que lhe vem à mente, em ato aleatório de fluxo de consciência, deflorar de ideias e exaltação da memória. Tal qual a inovação secular dada pelo poeta francês no final do século XIX.


Bibliografia

CAMPOS, Haroldo et alli. Mallarmé. São Paulo: Perspectiva, 2010

MALLARMÉ, Stéphane. A tarde de um fauno e um lance de dados. Lisboa: Relógio d'água, 2001

MALLARMÉ, Stéphane. Brinde fúnebre e outros poemas. Riode Janeiro: 7 Letras, 2007

POUND, Ezra. Cantares. Brasília: Serviço de documentação do ministério da educação e cultura, s.d.

SALOMÃO, Waly. Gigolô de bibelôs. Rio de Janeiro: Rocco, 2008

SALOMÃO, Waly. Me segura qu'eu vou dar um troço. Rio De Janeiro: Aeroplano, 2003





                                            

quarta-feira, 19 de junho de 2013

OS DESLOCAMENTOS DE FOCO E AS INCONGRUÊNCIAS DA MANIFESTAÇÃO DE ONTEM, 18/06/2013, EM SP

Sem muito dissertar, quero apenas deixar registrado as ações que me fizeram repensar quem é esta galera que está indo para as ruas e se estamos fortalecendo ou correndo riscos de uma emboscada direitista.

1. BANDEIRAS E CARAS PINTADAS
Não somos nacionalistas. Nossa luta ultrapassa fronteiras e nos identificamos com trabalhadorxs de todo o mundo.

2. HINO NACIONAL
Ai gente, aí não né? Já analisaram esta letra? Além do que seu histórico está ligado a todo a direita e sua exaltação da pátria, às forças militares, à obrigação de cantarmos na escola quando éramos crianças, a um louvor inexistente em tempos atuais.

3. "SOU BRASILEIRO COM MUITO ORGULHO, COM MUITO AMOR"
Mais uma vez, sem nacionalismo. Foi o nacionalismo que levou ao poder os movimentos ditatoriais, sobretudo do século XX. Foi com nacionalismo que o Ação Integralista se apresentou; os militares se apresentaram. Foi com nacionalismo que mais de 500 mil saíram às ruas na marcha da família com Deus pela propriedade.
E como disse uma amiga, 'com muito amor' tudo bem, porque o amor é cego, agora com muito orgulho...

4. "MÁSCARA V DE VINGANÇA, UMA É 10, DUAS É 15"
Tudo vira produto, venda, lucro.
A arte de mercantilizar a revolução.

5. CONSUMO DE CERVEJAS
Comemoração? Balada? Festa? Animação?
Ah, vá...

6. MOÇA DE SALTO ALTO COM O CARTAZ "PAREM DE OPRIMIR A CLASSE MÉDIA"
Calma, moça, essa não é a pauta e quando for, pode ter certeza que você será o alvo.

7. RAPAZES GRITANDO "VIADINHO" PARA UM GAROTO QUE DANÇAVA
Revolução da opressão? Definitivamente não é aí que eu faço parte.

8. A ONDA DE GRITOS "SEM VANDALISMO"
Realmente estou na dúvida sobre o que estas pessoas entendem por vandalismo. Até subir numa plataforma para fotografar recebeu tais gritos.
Pichações desde a Antiguidade são formas de expressão e oportunidade de visualização para quem transita pelas vias.
A título de curiosidade, nossa língua portuguesa vem de um latim esdrúxulo justamente por ser retirado dos registros escritos da época: pichações em portas de banheiro, placas de cemitérios e monumentos.

9. "O POVO ACORDOU"
Oi??? Há uma galera significativa que manteve-se sempre alerta e nunca dormiu no ponto. Movimentos organizados estão aí na pauta do dia desde há muitas décadas.

10. "VAI TOMAR NO CU"
Para entendermos como somos reacionários com nossa sexualidade e ainda mais em termos homossexuais, uma vez que ao mandar alguém ir tomar no cu, o que se está querendo dizer é que o cara (quando não uma mulher, no entanto a maioria esmagadora de políticos é do sexo masculino) é um "viadinho (para reproduzir o ítem 8) que merece ser comido"
Estrutura patriarcal-machista dá nisso.

11. "FILHX DA PUTA"
Semelhante ao anterior, chamar alguém de filhx da puta com o intuito de desqualificá-lx subentende-se um preconceito presente em relação às prostitutas

12. CONFORME DESCREVE UM REPÓRTER: UMA MANIFESTANTE VINDA DE CAMPINAS, TÊNIS NIKE E ROUPA DE ACADEMIA (NA DESCRIÇÃO DELE), AO SER PERGUNTADA SE LÁ EM CAMPINAS A TARIFA DE ÔNIBUS TAMBÉM ESTÁ ALTA, A MESMA CHAMA A AMIGA E PERGUNTA: -QUANTO É MESMO  A PASSAGEM EM CAMPINAS?
Espetacularização dos protestos. Síndrome de participação evasiva. Exposição midiática.

BÁRBARA ESMENIA - 19/06/2013






sexta-feira, 14 de junho de 2013

AINDA SÃO TEMPOS DE GUERRA

É grito, é guerra, é multidão -
O fogo da justiça parado, em choque.

Trânsito havia; inevitável -
com outros ares, mas era trânsito.

Trânsito de carros disparados?
Não - disparados neste dia foram outras composições.

Trânsito de civis nas bicicletas?
Que nada - civil no sentido de civilização neste dia era palavra inexistente. 

Trânsito de pernas subindo os degraus dos ônibus?
Nem pensar - o que subiram foram as bombas de gás lançadas ao céu.

Não era o trânsito tendo como protagonista a matéria,
a construção linha de montagem de uma fábrica de transportes.

Não, naquele dia era trânsito de pessoas que transitavam -
exercício de cidadania transeunte por pouco praticada.
Em bloco, porque somos melhores no coletivo.

Ninguém ouviu quando a sirene tocou,
apenas o olhar para o lado e o choque na cara do povo.

Nem tempo houve para que a resistência se armasse.

A covardia se apresentava em forma de máscaras, capacetes, garras, escudos, cassetetes, motores, camburões, cavalos, balas de borracha e bombas de gás

A violência-instintiva,
a violência-desgarrada,
a violência-bode-expiatório,
a violência-desejo-mimético,
a violência-vontade-de-ser-o-opressor,
a violência-coleguinha-vamos-brincar-de-polícia-e-ladrão,
a violência-toma-uma-arminha-de-presente,-filhinho,
a violência-o-que-você-quer-ser-quando-crescer,
a violência-seus-putos-bando-de-baderneiros,
a violência-estou-provando-que-sou-macho,
a violência-só-estou-fazendo-o-meu-trabalho,
a violência-puro-prazer-eu-bato-mesmo

(momento apofático)
a violência que não se explica,
a violência não hermenêutica,
a violência não eucarística,
a violência que não traz o novo e faz relembrar que somos bárbaros.

[é sempre ela, a barbárie, a nos recordar o processo ideológico]

Uns olhos vermelhos ao meu lado -
meio assustados, meio esperançosos -
me lembravam que ainda vivíamos.

Com esforço, consigo esboçar um sorriso:
-Sim, estávamos vivas e semana que vem tem mais.
Semestre que vem tem mais.
Em dez anos tem mais.
A vida toda tem mais.

A soma de um povo é que efetua este MAIS.

Ainda vivemos.

MAIS.


(sensações pós-quarto ato contra o aumento da passagem, SP, 13/06/2013)


sexta-feira, 7 de junho de 2013

GUSTAR DA FRUTA

Era tempo de sair por aí
Tempo livre das trepadeiras

Andávamos à beira das ruas desafiando carros,
cortando esquinas,
pulando faixas

Você não sabia muito bem o que fazer
com aquilo que chamavam de existir

É

apenas ser - é isso: É

Posta vida aventurosa
- durada de longos instantes -

Tu na desconhecença do sabor graviola
Eu fingindo rejeitar as sabenças
- idade puer castigando minhas vontades -

A fruta verde a adentrar lábios líquidos
sumo rarefeito possuindo-te as salivas

D'olhar soslaio
de desencontrar frutoses

m'eu segurar de mim
a escorrer desejos

não resistir d'instintos frutiferozes
querer do fruto mordi-mascado

Adentrar da língua gosto
- ignara à procura lâmbida-enlambuzada -

m'entregar às polpas dádivas
riquezas simples de naturar delícias


domingo, 26 de maio de 2013

V FEIRA PAULISTA DE TEATRO DX OPRIMIDX E ARTE POPULAR

Apresentação da cena de Teatro Fórum:

RELAXA AÍ E FAZ O MEU ALMOÇO
Grupo: Trajetórias Feministas – IA – São Paulo
Local: Praça das Bandeiras - Guarujá

Sinopse: A história real apresenta as relações opressoras e sexistas no âmbito familiar. Neste caso, o irmão e o pai de Mandi não estão fazendo nada, mas quem deve sair pra fazer compras e cozinhar para toda/os é a filha. Como podemos identificar a opressão do trabalho doméstico? Quais são as alternativas para que as mulheres consigam dividir as tarefas domésticas de maneira justa? De que maneira o trabalho doméstico e o machismo estão relacionados com a lógica capitalista?

Coringas: Alice Fonseca e Bárbara Esmenia

com: Juliana Solimeo
Xenia Pessoa
Márcia Cristina
Amilton Santos
Laís Cristina Soares
Amanda Monteiro
Mandi Cristina
Yendi Pessoa
Tati Damasceno
Zeca Moisés
Thaís Campos


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Ê

cadê muros riscados
cadê rabiscos nas lajes
cadê o furo na testa

cadê a feira que resta
cadê linha-montagem
cadê perus degolados

fura o risco na laje
testa a feira alinhada
esmurrando o rabisco

alinhada resteira
atestando a degola
peru que si peru que no

de lajeiros-feirantes
montadora ou cadê
cadeado cadeira 
fura-cor do bidê

quarta-feira, 24 de abril de 2013

FALA, BÁRBARA, FALA: PROGRAMA UM CERTO OLHAR RECEBE O COLETIVO TRANSITÓRIO DE TEATRO

O programa Um certo olhar, produzido pela Associação Cultural Periferia Invisível (www.periferiainvisivel.com.br), recebe como convidado no mês de março de 2013, o Coletivo Transitório de teatro.




Confiram!

terça-feira, 12 de março de 2013

CHÃO DA MINHA TERRA

Hoje é mais um dia
Fincarei meus dedos no chão da minha terra,
Debulharei o trigo,
Colherei abacates nos pés de manga.

É refazenda.

Não se passa um dia sem que eu,
unhas sujas,
não encare Gaia.

Nenhum dia é passado sem que eu,
pés descalços,
não ouça o retumbar de meu peito.

Aqui ecoam gritos de milhares.

Eu, Anita, a carregar as pedreiras do mundo.
Anita-mulher-rocha-sobre-rocha,
a arder num sol que impede
o rolar das águas de março.

O verão não fechou,
As gotas de chuva secaram,
O salário é minguado e o suor de meu trabalho
não trouxe a revolução.

É novo tempo de espera;
Tempo-sólido-pedra-sobre-pedra

Um martelo que bate,
um facão que atravessa,
uma serra que encerra
os limites da mata espessa.

Semi-árido-extra-seco do sertão
(não era este um país tropical?)

De volta o novo dia:
lá estão meus dedos ásperos a arar a terra

-meus dedos móveis enlameados a cozinhar o trigo esparso do jantar

-Pois venha, Joana, venha comer, minha filha

: mesmos dedos passíveis de apertar o gatilho

: guardo em mim o ímpeto rebelião

: por ora, é torcer para que os milicos não apareçam

: e praticar [tiro ao alvo] sempre

: -Quem disse que os donos da terra vencerão novamente?



terça-feira, 5 de março de 2013

OFICINA TEATRO DO OPRIMIDO - TENDAL DA LAPA

Além da oficina na Oficina Cultural Luiz Gonzaga, eu também ministrarei uma Oficina de teatro do oprimido no Tendal da Lapa:

INICIAÇÃO AO TEATRO DO OPRIMIDO 
Profª Bárbara Esmenia
terças feiras, das 14h às 16h30
início: 19/03/2013 - 30 vagas
idade mínima: 13 anos


Espaço Cultural Tendal da Lapa
rua Guaicurus, 1100
rua Constança, 72

Tel: 3862-1837

Participem!



OFICINA DE TÉCNICAS DO TEATRO DO OPRIMIDO - OFICINA CULTURAL LUIZ GONZAGA

As oficinas culturais do Estado estão com as inscrições abertas:

http://www.oficinasculturais.org.br/

E eu ministrarei uma de Teatro do oprimido na Luiz Gonzaga, a de São Miguel:

OFICINA DE TÉCNICAS DO TEATRO DO OPRIMIDO
Coordenação: Bárbara Esmenia
22/3 a 24/5 – sextas-feiras – 14h15 às 18h15
Público: estudantes de teatro a partir de 13 anos
Inscrições: 25/2 a 13/3
Seleção: aula aberta (15/3 – sexta-feira – 14h15)
15 vagas

A oficina apresenta um panorama do repertório metodológico e das técnicas concebidas por Augusto Boal, tais como teatro-imagem, teatro-jornal, teatro invisível, teatro legislativo e teatro-fórum, culminando com a experimentação de montagem de uma cena de teatro-fórum.

Cursando Artes Cênicas no Senac, Bárbara Esmenia é integrante do coletivo Transitório de Teatro de Rua e do Núcleo do Teatro do Oprimido da Unesp. Seu projeto “Pisando na Lama – teatro ambulante nas comunidades” foi contemplado pelo ProAC e resultou no espetáculo “Minha Vida Ta Bacana?” (2012).


Oficina Cultural Luiz Gonzaga
Rua Amadeu Gamberini, 259 - São Miguel Paulista - Cep: 08010-110 - São Paulo - SP
(11) 2956-2449 / 2058-1200 | luizgonzaga@oficinasculturais.org.br
Funcionamento: Segunda a sexta-feira das 14h às 22h e sábado das 14h às 18h


Ficarei contente com a participação de toda/os, poderemos aprender muito junta/os. Peço a gentileza de divulgarem, obrigada.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O QUE ME ESCAPA


Eu não sei o que de mim me escapa.
Eu, que acredito em tudo.
Eu, que escovo os dentes antes de dormir.
Eu, que frequentei a catequese.
Eu, que votei no referendo passado.
Eu, que escrevi cartas de amor.
Eu, que enviei cartas de amor.
Eu, que não sei o que é o amor.

Correndo pelo mundo no desespero da busca,
Sempre aquela velha melancolia que bate, bate,
pulsa firme pelos troncos que não se limitam aos arbustos.

São troncos meus, tu reparastes?
Não são as velhas árvores da floresta,
são partes de meu esqueleto ainda juvenil que um dia o desgaste o tombará na alcova.

Isso tudo me escapa,
despossui-me,
faz de mim sujeito-EU
- o elo vago de uma tarde de encontro com si mesma.
A vida é.
Não termina.
É muito, eu sei, mas quem disse que não sou simpática aos excessos?

E então, quando acabar, eis que novamente o que é de mim me escapa.
Não posso me segurar por inteira.

Pois vá.
Parta.

Mas não demore pois a vida, sim, agora sei, esta também se finda.



LASCAS E SOLAS


De repente, como quem acorda em um jazigo, assustadoramente brotou na sola de meus pés uma lasca de amor.
Doía. Eu não queria.
Era quase que impossível continuar a caminhar pelas trilhas deste mundo com aquela lasca marcando sua presença a cada toque de meu pé esquerdo pelos diferentes tipos de solo.
A primeira atitude imediata foi cutucar com uma agulha, de modo com que a lasca escapulisse para fora.
Não deu outra: como quem se encolhe com dedos coceguentos na barriga, aquela farpa de madeira se meteu mais para dentro, quase que se acobertando com a fina camada de pele que a envolvia.
Sem muito o que fazer, fui convivendo com aquilo.
Aos poucos, a sensação de incômodo foi deixando de aperceber-se e eu quase que não a notava. Eram dias atrás de horas seguidas de cronos de aprendizagem da convivência com o desconhecido.
Deixei-o instalar-se naquela que era a minha sola e o que era uma angústia inicial, tornou-se, ao final, um nem-aí despercebido.
Sorrateiramente aprendi a lidar com o amor e ele, aquietado em seu buraco, manteve-se ali, tranquilo, no mais intricado de minha pele a lembrar-me de sua condição atávica: era ele para sempre, uma fagulha de eternidade, até que, por fim, a morte viesse e secasse o fio de sangue que corria por minha sola.



O TEMPO E A CALHA

"O tempo se esvai pelos canos que desembocam em deságuas.
Um dia calha da calha estar entupida e o tempo fica – a conta-gotas homeopáticas.
Líquid'estanque no quedar abismo;

escorrer lânguido pelo velho piso”


VISITA NOTURNA [A GATA]

Habita uma gata que me visita todas as noites.
Abro a porta de casa, ela nada me diz.
Por vezes, nem sequer esfrega seu corpo peludo em minhas pernas.
Afia as unhas no sofá e segue a deitar-se em minha cama.

Mas ali... naquele estrado de minha intimidade em que transpiro e sonho paisagens quiméricas, sei que ela se depara com o mais profundo de mim mesma.

E, por isso, secretamente, ela descobre que me ama.

Contudo... dissimula.

Nao cabem às gatas revelarem seus sentimentos



SAUDAÇÃO À GLAUBER ROCHA (10/02/2013)




Pensamento de quem recentemente assistiu ao documentario Glauber, o filme, labirinto do Brasil (dirigido por Silvio Tendler, 2003):

''Ainda almejamos a nova utopia, Glauber
Os dados continuam rolando.
É um novo tempo de espera:
tempo morno - tempo morto
Tu diras que nao lutamos mais como antes e muito/as companheiro/as cederam às garras do imperialismo.
É verdade, eu sei/sabemos, é verdade, cineasta
A terra segue em transe fundindo Deus e o Diabo.
Quem contabiliza sua idade?
Quem voltou para soprar os ventos do leste?
Na encruzilhada, em barravento, tu apontas o caminho:
a trilha do cinema perigoso, divino, maravilhoso.
O sol, este santo guerreiro, ainda cisma em se erguer nesta antiga terra de dragões da maldade.

Mas insistimos, caro Rocha, persistimos.
E que falta tu nos faz nestes tempos do pouco.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

PELOS PELOS (ENSAIO SOBRE OS FIOS)

São pelos pelos que descobrimos a verdadeira natureza de um ser.
Pelo modo como um pelo se afunila no peito desnudo,
pelo jeito com que se assanha ao assombro de uma língua,
pela forma pelo qual se enrosca na dobrinha da orelha.

Pelo pentelho na subida do joelho.
-Ei, fiozinho atrevido, por onde sobes pelo meu corpo?
(ah, se ele soubesse como eu me arrepio quando o vento bate ao pé do ouvido)

Mas, olhe, o pelo subiu pelos seios,
encurvou-se nas redomas,
estancou na curva leste,
acelerou à cucaracha,
prosseguiu sinal vermelho,
fez um vinco bajo à destra,
conservou-se à cor de jambo,
atingiu o belo pomo,
roçou o biquinho assanhado,
e num baque abocanhou-o.

E pelas bordas se arrepia ao calcanhar,
e pelas beiras se ajeita à beira-mar,
pelas pelancas se intimida ao giletar,
pelas pelotas se enrodilha a girar,
e pelas ancas se despede ao se corar.

Lá vai ele, pelo sacana, ralo abaixo, se indagando:
-Mas quem foi que inventou a tal da depilação?



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

PAU DO DESESPERO (A PALAVRA DA POETA)


A palavra da poeta é lança cortando o pau do desespero
É lucidez nos perigos desconhecidos
Feto guardado tergiversando o cordão umbilical semi-rompido,
Nu-instantâneo-antigo.

É chicote, 
Serrote que rasga,
Nesga de ferida derrotada da labuta diária.

À poeta, a palavra ilustrada.
À palavra, a espera poeta-periclitante.

Cessa-se o científico, o jurídico, o legislário.

Teto corolário de escrita.

A poeta não pensa, a poeta não age.
Re-age na ação instaurada.
Re-faz na poesia a desordem natural das coisas-caos.
A poeta quebra – com um vergar de mãos – a chibata desesperante




segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

OLHAR O MUNDO

"Aprendi a olhar para o mundo como quem observa o cair de uma primeira gota que anuncia uma tempestade"

Bárbara Esmenia



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

PERDAS COTIDIANAS

Perdi hoje um casaco;
deslizou pela bolsa e, ingrato, pousou no chão sem se despedir

Perdi, também, o celular;
escapou de minhas mãos, caindo direto em um bueiro

Perdi, em seguida, o olho esquerdo;
fixou-se em uns cabelos que escorriam por ombros eretos

Perdi, ainda, a comunicação pelas palavras;
tentei proferir frases que estancaram com a impossibilidade de meus lábios se abrirem

Perdi, no momento seguinte, os movimentos;
vi você escapar por entre as ruas, tornando-se um ponto flutuante entre a multidão

Perdi, enfim, minha alma;
quando não mais te encontrei pela cidade, te buscando pelos mesmos caminhos pelos quais vi o ponto desaparecer

Perdi, oh não, minha vida;
quando esperei...
retornei...
retomei...
reforcei...
e nada...
apenas não amei.