E se corro
é que o mar em mim
há revolta
há urgência.
Despenteia os corais
rompe areias arenitos
grãos finitos pedra calcário
rochas mármore telha nas coxas
Quebra imagem da santa
Enfeita as mandingas.
São flores nas ondas
batismo
odoyá
Água que vomita em mim
não guenta olho meu nas vielas dos guetos
É recife de lá - eu cá não me arrisco
Se corta as vagas,
come fibras,
nutre artérias,
sente as conchas
- não há pérolas
Que resta eu emaranhada das redes?
Pescador, vem cá buscar o que te sobrou
Pescadora mulher não se encontra
-é coisa de homi, é?
-Puxa as redes, mulher que segura
corta as espinhas, descama mãos firmes
serve à mesa família todinha
homem na rede
mulher limpa-lava-seca-cozinha-é-mais-uma
Recua ligeira que as ondas já voltam
Não,
não aprendestes a nadar -
se flutuar foi preciso
navegar tornou-se um risco
Mar revolto:
quem foi que te assim fez?
Vida esqueceu foi de remar
Afogou primeiro metro
entupiu veias das bílis
respira mar
pulsoceano
lá vem ondas
veleiros
náuticos
brisa das vagas
ventos convulsos
Desce pedras
beira montes
corta rusgas
rasga mangues
Cupins de mateiros
caçando fugidos
é fogo no mato
cachorro que late
combate inimigo
roça primária
de mar
há estrada
léguas sem fim
cor
é
mar-fim
caminho que corta
afoga
afaga
Batidas gole a gole
da represa que é senão
- se seca
- é seca
- não cessa
- resseca
Boiar.
Boiar sempre.
Como quem num fôlego só
rechaçasse a imensidão.
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