Eu não sei o que de mim me escapa.
Eu, que acredito em tudo.
Eu, que escovo os dentes antes de dormir.
Eu, que frequentei a catequese.
Eu, que votei no referendo passado.
Eu, que escrevi cartas de amor.
Eu, que enviei cartas de amor.
Eu, que não sei o que é o amor.
Correndo pelo mundo no desespero da busca,
Sempre aquela velha melancolia que bate, bate,
pulsa firme pelos troncos que não se limitam aos arbustos.
São troncos meus, tu reparastes?
Não são as velhas árvores da floresta,
são partes de meu esqueleto ainda juvenil que um dia o desgaste o tombará na alcova.
Isso tudo me escapa,
despossui-me,
faz de mim sujeito-EU
- o elo vago de uma tarde de encontro com si mesma.
A vida é.
Não termina.
É muito, eu sei, mas quem disse que não sou simpática aos excessos?
E então, quando acabar, eis que novamente o que é de mim me escapa.
Não posso me segurar por inteira.
Pois vá.
Parta.
Mas não demore pois a vida, sim, agora sei, esta também se finda.