quinta-feira, 29 de junho de 2017

português colonizante
foi por via grande mar


é este idioma ilhado
em que
- a esmo -
pena a encontrar eco ligeiro
em proximidades

circulo um globo
amparando nas quinas
- aportando no que
são cus do mundo
| aquele excretor que não reproduz,
que não gera frutos,
que merece extermínio |
dizem eles

dito tal qual
mesmo idioma falado
mesmas línguas falantes
homens-brancos falácias
chegadas caravelas

alguém de angola,
te escuto de cá?
ouça-me macau,
é eco baixo-linha-do-equador quem responde

chegança em voos atuais
o que no antes
- feito de mares | beira-costas -
com cargas-cargueiros
- gente humana transportada,
amontoada,
pilhadeira -
no idioma dito
fez assombro 

ei moçambique
veja como redigimos linguagem mesma

¡ guiné bissau !
- essa exclamação anterior a ti não existe idioma este

timor leste
que antes soprado tivessem mesmo sido ventos do leste
- criador de tempestades que são -
a derrubar embarcações
desaportar submersos
"varrei os mares, tufão!"

são tomé e príncipe
se ser mar
não faz borrão
comunica cá tua fala insurgente
teu anseio verborroso
- cabe em língua portuguesa?

cabo verde
amplia minha ressonância poética
para tocarmos nas verves
sentidos pralém das palavras

apartadas na fala
expilo vozes no sul-do-sul
e só escuto espanholados
colonialidades alhures

pra voz ecoar
latinoamerica
há que se transpor verbos,
declinar letras,
assimilar adjetivos
| raiz latim é a mesma, me assegura? |

antes no todo anterior
nosso eco soante
em mil-milhares-miliões
que indígenas (várias) são línguas

comunico meu silêncio interno
com as caras lindas desta gente negra
os andes ecoam
mesclam-se cholitas
grandes mamas
e xamãs que são várias

cruzança atlântico
pralém materialidade pegável

: é poesia que nos chega de lá
/ é poesia que de lá vinda cá :
: é música viva | nos chega de lá
/ é música fera | de lá vinda cá :
: é dança - são corpos | nos chega de lá
/ são corpos - que dança | de lá vindos cá :
é texto - intelecto | nos chega de lá
/ são mentes pensantes | de lá vindas cá :




segunda-feira, 26 de junho de 2017

[ s a L T A ]

anda
canta
cambia
torna
salta

salta
enorme e mais-centímetros
do que se pode dizer gigantesco

ah sabia
- de sempre -
que pulo pequeno
nem girino treinado foi pra tal

salta
salta é nos picoaltos
- lá bem nos cumes -
que a gente consegue enxergar os miúdos da vida
aquilo tudo de longe em pinguinhos
tornando pontículo
o que de nada era pouco em significância mesma

salta
e que este salto te traga de volta após pulo elevado
para que olho observe no perto
os novamentes do que ocorre nos dias

salta
e faz concordância vida
com o que deve restar para os tempos

tirar no menos subtração
tudo aquilo de dado valor:
a escola de luxo
imc adequado
as vagas-garagens-jardins
tênis-pisante compras-constantes
drone controle remoto clube privado finais de semana

salta
salta e olha por cima
- enxerga além d'aparências -

que de tantas, tudo isso
fincado no couro
o que se mostra
:
de quais vidas cá falamos?



quinta-feira, 15 de junho de 2017

a gente sempre acha que
: fazer poesia :
nos transforma em libélula

- são trinta mil lentes cada olho
desconfiando das vistas desse real nada inócuo -



arrabalde da vida
me desloca em meandros

veja:
todo cerne-existência
arrepara bonito
não fixados nas vistas

faz meio-no-dentro
enxergando nadinha
no que sendo
das têmporas



quarta-feira, 14 de junho de 2017

[ para que o coração não se abafe -
ou "quando a medida de algo tem quina-ponta que não se encaixa" ]

não adianta
é vazante

fará do bolso
gargalho fino
para passe falho
miúdo
esguio
de quando saber
percepção nova
para que colheita seja fresca próximo verão

virou foi lado
para tentar ser encaixe
- ainda que incerta -

tinha ponta
tinha bico
tinha falha geodésica
fechando gargalo de passagem
retina

nada sabendo abandonar
de quando o que vem chega por mãos
- já que apego fecha punho firme
e de abandono não fica
- mesmo que em quando é vista de pequenas brechas entre dois dedos -
ajuntada em três, quatro, cinco,
amontoando em mão inteira
| seja lá fechada,
percebo por moinhos as riscas-palavras |

apalpa
arrecebe
- corpo todo -

e na abstração do pouco conseguido
só pelo que havia sido de olhar
embarcagora
num infinito
que de nem eu nem tu possa 'inda saber

fincou foi âncora
subtraída de garras-mãos
pra nunca mais
de²bandada
sair-chegar continente


segunda-feira, 12 de junho de 2017

SOÇOBRO

traduzo um oriente
desembocando
- lado pendente -
meu esquerdo
como que virando costas sul mundo

parada
na boca do que chamamos esquina
atravesso
por entre seus glóbulos
- quinados batente de mim,
ainda que curva transversada
quando não encontramos ouvido
{ daqueles riscos traçados seus dedos em nódulos
enquanto audição não soma+mais as palavras
e²scuta se graça interno-e²xterno }

| fixos
epidérmicos
ladinho pequeno
a dizer muito mais
do que nunca corpos repararam |

faz de mim um icebergue
do tudo afundado nunca ousado dizer
mas apresentando toco valente
arrebitado
sabendo sentido de ser sobreimerso

- ainda que
| m u i t o |
pesando por baixo



quinta-feira, 1 de junho de 2017

envolvimento com as águas

não é na
insegurança de pés
caminhar pedras

[não sendo sobre
posto que em
beira-andada
nada
há sobreposição;

- e se pedra por si só
não se move
justo é compreender
que no posto de
| caminhar pedras |
quem se desloca é
_sempre_
sujeito do próprio andar ]