Pedra de fala
não polida
mas pedra áspera
pedra que quica
Teria muito o que gritar
dos murmúrios ouvidos
das mãos pretas que me carregaram
centro histórico acima
centro histórico abaixo
do que hoje são ruas
caminhos
e vias
de muitos pés brancos
- importadas sandálias -
me pisando
me lixando
massacrando
me cuspindo
Eu pedra
nessa minha imobilidade sem fala
Reajo?
Meu troco desnível no caminhar
Meu troco dificuldade da pressa
Meu troco impossível salto alto
Meu troco deslize de quem rejeito
Meu pouco troco de micro cosmos
Meu troco nada de eu sozinha
Pudessem elas
- outras pedras -
ouvirem minhas memórias
Pudessem elas
- velhas pedras -
me contarem sobre as suas
seríamos muitas
- quem sabe se todas -
obstáculos firmes
prontas para os tropeços
destas solas alheias
que transitam alhures
em terreiros não-seus
Quicaremos.
Sim, nós quicaremos.
nosso quique rocha
nosso quique estanque
nosso quique sangue
nosso quique pedra
desta Parati que é preta.
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