quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O QUE VI EM PARATI - 1. DAS PEDRAS


foto: Lais Borgom

Se eu pedra de Parati fosse
Pedra de fala
                 não polida
mas pedra áspera
                            pedra que quica

Teria muito o que gritar
dos murmúrios ouvidos
das mãos pretas que me carregaram
centro histórico acima
centro histórico abaixo

do que hoje são ruas
              caminhos
                       e vias

de muitos pés brancos
- importadas sandálias -

me pisando
me lixando
massacrando
me cuspindo

Eu pedra
nessa minha imobilidade sem fala
Reajo?

Meu troco desnível no caminhar
Meu troco dificuldade da pressa
Meu troco impossível salto alto
Meu troco deslize de quem rejeito

Meu pouco troco de micro cosmos

Meu troco nada de eu sozinha

Pudessem elas
                            - outras pedras -
ouvirem minhas memórias

Pudessem elas
                         - velhas pedras -
me contarem sobre as suas

seríamos muitas
                          - quem sabe se todas -

obstáculos firmes
prontas para os tropeços
destas solas alheias
que transitam alhures
em terreiros não-seus

Quicaremos.
Sim, nós quicaremos.

nosso quique rocha
nosso quique estanque
nosso quique sangue

nosso quique pedra
desta Parati que é preta.



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