quinta-feira, 19 de setembro de 2013

DAS ILUSÕES COTIDIANAS

O domingo pela manhã me levou o vento
Bateu flutuante pelas frestas, arrancando o pôster pendurado na parede da garagem.

Era vento-redemoinho
Desassossego corsário de um dia sem fim.

Era vida cotidiana.
Vida besta dia-pós-dia.

Nos encontrávamos nos momentos mais banais
As gotas cortando o asfalto
Suores respingando banalidades
dias-horas-meses-possíveis-anos de uma eternidade que quis ela possuir

Era pequena ilusão perdida
O velho Balzac martelando na cabeça;
-o título de um livro que nunca nem folheou -

Era vivência de uma possibilidade
Mais uma tentativa de um ato falho que cismava em se prolongar
-a cadência de um membro que não cessa seu movimento -

Era a perda de uma esperança
E a lembrança da fatalidade da vida

- o recordar que, sim, um dia tudo se vai -


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

MÍDIA DEMOCRÁTICA ENQUANTO ESCRITA DA "HISTÓRIA A CONTRAPELO" (ESBOÇO DE UMA REFLEXÃO)

Atitude muito utilizado ao longo da trajetória de dominação da classe reinante como tática de manutenção do poder, o desaparecimento do registro de fatos históricos que concerne à possível ruptura e destruição de um status quo deu-se sempre como prática naturalizada no decorrer dos séculos.

Tendo em vista que o estudo da história da humanidade se apresenta majoritariamente como o estudo das classes no poder, contado sempre do ponto de vista do vencedor, nada mais coerente com os ideais hegemônicos vigentes do que a ação de queima de arquivos do metrô praticada por tucanos desejosos da continuidade de historicização dos fatos sobre o ponto de vista de quem rege o poder.

No entanto, se esta análise da história contada sempre pelos vencedores, apontada por Walter Benjamin em seu texto Sobre o conceito de história, funciona indefectivelmente em toda a história da humanidade até o momento em que Benjamin a publica, em 1940, a explosão das tecnologias e, sobretudo, o uso da internet demonstra a possibilidade de, mais do que nunca, se"escrever a história a contrapelo" - tarefa a qual compete um verdadeiro materialismo histórico.

Apesar deste processo muitas vezes não se dar de modo consciente, o fato é que a velocidade de se espalhar as notícias sobre a queima de arquivos via internet gera um conhecimento e possível reflexão ampliada sobre o assunto. A partir daí, uma possível cobrança e questionamento sobre o fato se torna mais apresentável.

O que trazemos aqui não é nada novo, na medida em que é de conhecimento geral a abertura de alcance e democratização oferecida pela internet. No entanto, o que queremos chamar a atenção é o fato de que esta ação permite contar a história não mais, ou não somente, pela manutenção do ponto de vista dos vencedores, mas sim como escancaramento das ações não-éticas destes, permitindo trazer à tona uma contradição inerente a tal poder hegemônico, incitando um novo olhar ao que encontramos atualmente estabelecido.



terça-feira, 3 de setembro de 2013

PARA A PRÓXIMA TEMPORADA

Era matéria de desacontecimento.
O corpo beirando o extremo.

Você que chega no esmiuçar da noite.
Fala baixinho para não me deixar captar o grau de tolerância contido em seu sussurro.

A vida poderia ter sido.
Naquele momento - sim - ela poderia ter sido um infinito de possibilidades que nos escapou por entre o cotidianizar de ex-novidades.

Você suspira.
Eu silencio.
Gosto deste teu jeito de tornar suspense um fato leviano.

Eu que não sei quase nada do que fomos.
Corremos feito cavalos bravos por entre as selvas desmatadas.

Desta vez eu não vou escapar.
Desta vez eu não posso escapar.
- e talvez eu mesma não queira -

Se você vem, com que mãos conseguirei dizer que parta?

O bom mesmo é adiar a chegada.
Ins-tan-ta-nea-men-te.

E torcer para fazer sol na próxima temporada.

Oxalá nos reencontremos.