a gente podia
tá tudo agora envolvida
umas em cima das outras
algumas nos lados
várias embaixo
tantas ao longe observando como é bonito demais
e
como acender essa vela aqui
faz bem pra contemplar
essa cena privilegiada
a gente podia
voltar naquela noite
e contar de verdade
em quantas estávamos
quando
chegaram mais duas
e
perdemos contagem
na memória café da manhã ainda juntas
[alguém disse oito,
mas a gente se lembra
que éramos ímpar]
e quem se importa com números?
a gente podia
voraz
como naquele poema
"não há nada" (nothing),
de Cheryl Clarke
- que foi onde eu descobri
que "comer-lhe o cu"
e
"chupá-la na frente de sua outra amante",
e
"mostrar-lhe o prazer no perigo"
e
"deixá-la ver eu comer minha outra amante"
tinha nada que ver com
monogamia
e
bem podiam ser versos de poesia
e
me fez saber muito mais
de possibilidades
grupais
- e escritas poéticas -
que
aqueles sonetos barrocos aprendidos na escola
a gente podia
seguir assim dia a dia
no desapego mesmo
sem acorrente
sem possessão
sem as merdas todas
só um grupinho amante
que se deseja|gosta|ama|trepa
e
se dá|sente prazer nesse agora
vivas no contemporâneo
...
#tsunamisapatão [um poema por dia de 29/07 a 29/08, Dia Nacional da Visibilidade Lésbica - participe!]
.
[tradução dos versos de Cheryl Clarke, entre aspas, é de Thamires Zabotto]