quinta-feira, 8 de novembro de 2018

[ da coletânea Poemas para combater o fascismo ]



ninguém declarou tempos fáceis
uma risca vermelha
deslizando meio-fio do trânsito
nunca foi suficiente
para causar comoção

regressamos às casas
reconhecemos nas ruas as nossas e os nossos
e a cada instante nos perguntamos:
onde foi que estancamos o amor?

ninguém declarou tempos hábeis
o manejo de uns braços
em corrida para os amplexos
ainda é nosso treino-milícia
à guisa de qualquer tiro ao alvo

caminhamos pela cidade no mínimo em duplas
viver só sempre foi perigoso
e muitos têm nos perguntado:
quando foi que desenterramos o medo?

fato é que temos vivido pouco
tempo lazer é quase nada
desabitamos os parques
e frequentamos as ruas
sempre soubemos delas trincheiras
para acúmulo de tantas histórias

escrevo literaturas
anuncio sobrevivências
espreito nos olhos alheios
palavra surrada solidariedade
e,
todavia,
só tenho encontrado desespero

desde quando os olhos
desaprenderam os outros e as outras?

ninguém declarou tempos amáveis
o punho fechado
- mesmo tamanho de um coração -
tem pulsado a mais que esse
que ainda bate no peito

depositamos no amanhã esperanças,
entretanto,
ainda vivemos no hoje
e se há um fio de sangue dos nossos e nossas qu’es-
corre
- de quem sejam as veias
- de quem sejam as carnes

anuncia que tempo
-não fácil
-não hábil
-não amável

no face a face ao fascismo,
que vivam - sempre - as nossas
- as d i v e r s a s existências -

de quem sejam as vidas
que não se tornem as mortes

[da coletânea Poemas para combater o fascismo / completa aqui: 

e vídeo aqui:


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