sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O QU'ABALA



aquela Woolf que disse
qu'escrever mulher
nem abala orçamento familiar

até Shakespeare - obra completa
- dezesseis pences pagos -
compra-se
suficiente papel

o qu'abala
justamente
é este não-monetário
é este não-econômico
não valorado em dinheiro

esta palavra que sai viva
por trás tem rosto
tem sexo
tem ânima

é a mesma composição física
que vem lá d'Antiguidade
que perpassa a mesma Woolf
que segue
reverberar contínuo

o qu'abala
é rigidez débil
d'estrume patriarcal
teu falo tão contundente
não contendo
                           fala mulher


terça-feira, 25 de agosto de 2015

dita

é
este
ar
fresco
qu'e
(des)tempêra
a'alma
(des)hidrata
as
fluxas
(des)abita
fôlegos
des(existe)
(in)siste
doqu'
(in)tenta
(pré)sta
(des)ta
(dis)ta
ânsia
dis(par)arte
mân-
ti-
ca







sexta-feira, 14 de agosto de 2015

vidas não valem - 3. peso

minh'alma
                    pesando
          21 gramas

   e você
                              preocupada
com as dobras da cintura



domingo, 9 de agosto de 2015

- fric-ativas -

x   x     f xx z  / v xx j x   x   x

x   x    x    x    zzzzz vvjvvvvjjj x   x

x     x     x    x     x       fffffffvvvvxzxzxzjjjj    x

essa farpaproximação incompleta de dois órgãos da boca

des(con)templa/mento meu modus vivendi entre

esta tão portuguesa língua

e minhas as papilas gustativasfalas




sábado, 8 de agosto de 2015

MOVIMENTO ATERRO - 4. DO TEMPO

                                                                                                                                                                                     ténpu ki bai

Tempo levado minhas horas
esquecido pontu'os segundos
tic tac lento batida corpo acento
Meus piscares ressaca
destacando
pálpebras convexas

Nem sei do que que é tempo
                   - este que segura os minutos –
         - perde compasso pequena ampulheta –
- perde ampulheta areia d’queda –
          - a queda qu’é vida reergue d’solo –
                                                                       [areia retorno]

    - a vida perdida sem lá nem por que –

Menina parida de tempo d’sobra
gerada alto ventre
                                drumida negrita
         tem-por conta gotas pingando nas calhas

- calhar de um dia ser ténpu fechadu –


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

MOVIMENTO ATERRO - 3. FINCADO

olhar batuques pré-cansados da labuta
- a desistência marcando os compassos -
os corpos serventes excluindo os dolores
de ventre fértil violado por
                      membros cáucasos
                                                resultando em morte nascitura

o que não coube em minhas mãos
meu peito em mamas acolheu
- meu o peito convulso aberto às demandas da prole -
- líquido escorrer-lento a sanar fome subnutrida -

eram choros mindinhos
                                           de bocas pretas escancaradas
eram cabeças ensopadas
                                           de crespos capilos agigantados

arquear de colunas

                                   destroços de troncos

de toque nas coxas

                                    produzir novas telhas

eram  minhas as pernas de pelos crescentes
- nutrir de fibras fortalecendo os poros -
minhas pernas corrida-quilombo
- fuga convexa seguindo rastros-avós -

era o passado retornado em ancestralidade alumbrada
- marcação fértil de quem me antecede -
- leve sonoro de antigas cantigas -
ora iê iê ô
minha mamãe

atingir de meu pé solo
toque-grado em terra-barro primeira
fincar camadas pr'além d'superfícies

entranhas
cavares
arraigos
penetras
fossos

terreiros estes de quem sacou onde pisa
-quem sabe você não siga estes rastros quando queira

as raízes seguem abertas
e nossas veias latino-sur-américa é idem