Por vezes os poemas fazem mais sentido do que a existência.
Quando a realidade não se cristaliza em significâncias que extrapolam a esfera do meramente visível, seguramente a disponibilidade das palavras que se entrecruzam criando outras concatenações é fonte certa que nos arremata a alma.
Esta cena primeira é compartilhada com Geandra e composta de Drummond, Lispector, dona Bastu...
Movimento número 1: "Chega um tempo em que não se diz mais Meu Deus, tempo de absoluta depuração".
Saio de casa a fim de ir à aula. É sexta-feira, único dia em que tenho aula à tarde. No caminho sou interceptada por um telefonema.
Movimento número 2: "O inesperado bom também acontece".
Amiga Geandra com um belo convite ao cinema. Girimunho. Cinesesc. Conversa que pende, pende... Topo. Cancelamento de aula.
Movimento número 3: "O último dia do ano não é o último dia do tempo"
Retirada de ingressos ao teatro. Chego cedo, ingressos disponíveis, não os retiro. Aguardo amiga Geandra para podermos pegar lugares juntas. Ela chega: ingressos esgotados. Fila de espera? Retornaremos em 4 horas, obrigada.
Movimento número 4: "Não se é novo nem velho"
O digital (tão mais belo era escrever 'a película') nos destemporiza, somos conduzidas ao tempo diegético das imagens. Ge se emociona, eu me desloca da vida.
Movimento número 5: "A vida apenas, sem mistificação"
Fila de espera para o teatro. Vidas atualizadas. Ge: -Já que você gosta de recitar poemas, ouça este! E lá vem Pessoa, Drummond, Castro Alves, Caeiro, Bandeira e também canções: Chico, Bethânia... e a vida apenas...
citações:
movimento 1: Os ombros suportam o mundo, Carlos Drummond de Andrade
movimento 2: Clarice Lispector em carta à amiga Olga Borelli
movimento 3: Passagem do ano, Carlos Drummond de Andrade
movimento 4: dona Bastu, filme Girimunho
movimento 5: Os ombros suportam o mundo, Carlos Drummond de Andrade
Um comentário:
Ainda bem que existem o encontro, o afeto, essa poesia vivida. Ainda bem que a amizade colore a vida e até faz com que ela tenha sentido.
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