"Tudo pela arte", certamente alguém já disse.
As panelas, os frascos, os isqueiros, as bobinas.
A arte pelo todo.
O prolongamento de um encontro fortuito no banheiro com alguém que em um passado recente foi por vez um grande amor. Esse alguém que por longas noites pratiquei meu exercício de olhar fundo em sua pele e dediquei-me a exercer naqueles minutos a delicadeza mesclada ao assombro dos gestos de quem se ama.
Esse alguém por quem você indibutavelmente caminharia por toda a universidade, decalça se preciso fosse, para a ela conseguir o volume de um livro; - um texto, um artigo, um conto, um poema, a metade de um único verso que fosse.
Encontro que se arrasta por mais tempo do que deveria durar.
O retorno -Por que sempre eu retorno?
Desta vez, entretanto, houve a concretude mascarada em justificativa: a necessidade de um livro.
Retorno não ao revisionismo a quem se acredita, por vezes, contudo, oras bolas, ainda amar. Mas sim, retorno à necessidade de levar para a casa o exemplar daquele raro livro tão desejado de se alumbrar.
Antes de tudo, há a arte.
Andaria ela por mim descalçada pelos corredores da universidade?
Quem me dera ainda poder responder que sim.
Ah vida que não se reciproca.
Ah atos que não se intercambeiam.
Emoções que não se correspondem.
Por que, meu Deus, por que faz de mim ainda prestativa aos seres que amei(o)?
Por que não me deixas abandonar tal criatura?
Permita a mim praticar meu exercício de alteridade sentindo o mesmo que por mim ela agora sente: a indiferença.
É justamente porque sei que o contrário do amor não é o ódio, e sim esta mesquinha indiferença que deita raízes naquele corpo que um dia afirmou me amar.
Enquanto eu odiar será ainda meu travestimento para com quem contínuo amo. Meu disfarce de carnaval. Pobre menina dando nó no elástico da máscara frente a frente de supetão.
Novamente eu pergunto:
"Por que me abandonaste?"
-para quem acompanha meus Percursos, o de hoje não leva citações pois estou oca de sustentação poética. Seca.
E, talvez, por que não, estou farta de todo o lirismo.
à guisa de não-identificação: o eu-lírico não sou eu!