domingo, 22 de outubro de 2017

[ uma mulher no metrô ciudademexica ]

uma mulher a mirar
raio-x maxilar no metrô
desliza olhos atentos à arcada dentária
descobrindo raízes
que sustentam mordidas

uma mulher a mirar
raio-x maxilar no metrô
revela a si própria
face que sobra
quando em corpo decomposto
restado no pós-morte

uma mulher a mirar
raio-x maxilar no metrô
é a certeza de que vida
- essa apenas -
finda nós tudo em ossos e dentes
do que sobra
- resistente -
a permanecer matéria

ainda pouco que seja
feito lembranças
do resto de algo
quando { ela }
não mais
será vida

(09/10/2017)




eu queria escrever um poema estilo Matilde Campilho
teria aquele rapaz caminhando pelo Brooklyn
eu citaria as marcas de cigarro que nunca comprei
seguido de
fugas de corpos
revólveres
retas paralelas

depois eu sairia pelas ruas dirigindo automóveis
contando das coisas que descobri nos fins de tarde
me perguntando se você reparou
nas vitrolas
nos alicerces dourados
e nos tigres asiáticos

enquanto eu folheasse um dicionário de inglês para encontrar algumas sentenças que tornassem cool meu poema

eu queria escrever esse poema
mas no meio da escrita eu encontrei
você

você num cruzamento movimentado no pico do trânsito cotidiano

você entre multidões
- fugas de corpos -
você nua
empunhando cartaz de alguma frase que não me lembro exato contra a censura nas artes

eram tantas
vocês todas nuas e nus
pralém conservadorismo vigente

eu tentando escrever um poema sobre o fraquejar de meus joelhos quando criança de encontro com uma pintura imensa numa sala de museu

mas tinha você
- multidão -
e mulheres que se beijavam pela visibilidade lésbica
seus direitos
e sanção do projeto de lei que institui a data

era pra ser só mais um simples poema
observar a cidade e agradecer à editora 34 por ter publicado Jóquei que parece que me agrada

mas tinha você
: multidão
: corpos nus
: beijos lésbicos
: mulheres negras em marcha
: pauta-aborto de há tempos
: e outras tantas

que os tigres asiáticos
não tiveram espaço nos versos
pois que se mantiveram em Ásia

eu queria escrever um poema
...
mas tinha você
- multidão -
e eu lá junta
: corpo nu
: cartaz empunhado
e
: era em mim seu beijo lésbico dado

(07/10/2017)


[ berlim - ê setembro, 2017 ]

aqui chamam
velho continente

a história contada
ao largo do mundo
no que a faz hegemônica seja;
repassada em escolas tais todas

e olhar essas caras
que não me faz mostra
ancestral de

é preenchido
: desgastes
: valores
tudo que colonizar
chamado foi
- e é -

me impele a saudar
- desde já -
plátanos duma latinoamérica
tão grande-imensa
de passados lá longínquos
a fazê-la
- além de -
território pertinente

que é velho
: sabido
- ô se é -
e consente

aqui chamam
velho continente

renovada se faz
- insolência
com essas caras não-brancas
qu'habitam
: que imigrantes
: que refúgios
há de ser-se pertencentes
no que
- velho continente -
tornou revés
nós
dissidentes


(06/10/2017)



[ poema vertical + deslumbre horizontal ]

[ poema vertical
:
plataformas
elevadores
estátuas
edifícios
postes
de
luzes
árvores
centenárias
todasescadarias

+

deslumbre horizontal ]
:
o mar jorrando aquáticos
toda lembrança que me levava-você

e
nós
esse
fluído
orgasmo
que nunca
verticalizadas
fomos

quando em camas -por-vezes-chãos- horizontar corpos é meta para manter-se em pé nos dias



afagada em ventos
que
é em sopros
que
- dias mais,
dias menos -
lambidas águas
a
mar faz ondinhas
e acaricia
corpo todo que é nosso
: seu
: meu
: composto
de quando nós proa
cria
se multiplica em ondas
e faz nascenças
d'um ponto eis
pralém de bússolas

ainda que
: velas
: timão
: braço leme
me queiram conduzir
eu que non ducor
sigo
do que escape certa
desfaz de toda as ondas

é só meu jeito esboço
que é dado às fugas
quando
des
controla
abismos
e se atira
às cheias

mesm'
a f o g a d a
s
e
j
a

(07/09/2017)