era pra ser pouco, pequeno, miúdo
o restinho grudado-fundo do pote
da raspinha que nem sobrou do que ontem
era pra ser tudo mais fácil
te ver dia sol-e-vento
tocar no rosto sorrindo-todos-dentes
dedo fincando em cabelos que não deslizes
era só beijo, mordida, risada
-me chama pra passear -
elogiar os vestidos
dizer que tem fome e que como tem que comer mesmo, tu não quer vir comigo?
rir que é achar graça do novo corte de cabelo
reparar que nas pintas do rosto formam as três marias
e as mãos, se observadas na espera de algo, fazem uma certa fricção quase como se acarinhasse um mamilo
sexo
mais
- pede de novo -
gozo
mas aí a gente acha que pode ser neblina da modernidade
enovelando as visões
pasmacentando tudo
a gente acha que hora ou outra vem - vai vir - vento-fúria redemoinhando os desejos
a gente acha - mesmo - que pode ir junto
que vai ventar pra-lá-pra-cá
que é só questão de conversar-o-tudo
- abertamente [óbvio] porque a gente tem que desconstruir -
- em que século estamos?
mas tá tudo misturando os sentidos
tá tudo esfarinhando no ar
que o pouco que a gente se agarra e acredita
- lá vai que vem semear no que outros -
era para ser muito,
grande,
aberto,
- afinal -
mas a gente tá chamando de pouco
que é pra disfarçar furacões do de dentro
a gente tá chamando de broto
pois vai que semeia
- dá -
e então podemos chamar
mesmo
de
vida