Walt Whitman, meu pensamento em ti.
desço à beira das colinas, bem ao modo como tu me ensinastes.
no entanto eu nada enxergo.
Estou cega, meu poeta.
Você que me ensinou a olhar para os lados sem me esquecer do atrás e do adiante.
você que me fez me lembrar de todas e todos - feminino e masculino, como você, vanguardista poeta, verso-livre-livrou.
Esta manhã, em frente à janela, observo um mundo de abismo diante de mim.
seus versos correntes, soltos e longos, suas aliterações, seu encadeamento de livre-pensar ainda teriam espaço nos dias de hoje?
A resposta é sim, caro velhinho.
Você está contente por isso?
se satisfaz?
sente a brisa ondular suas cãs?
Ou, quem sabe, talvez preferisse o abraço de amantes nos corredores das estações.
Dejetos de esgoto abraçando mendigos nas vielas.
Uma criança que nos pergunta o irrespondível.
O que prefere, meu amigo?
até eu, meu senhor, até eu me embaraço nas preferências.
(- por vezes a vontade é mesmo seguir Bartleby em sua vidinha mais ou menos -)
mas foi você quem me ensinou a seguir assim, viajante de mim e não parar nunca mais.
Não parar nunca mais.
Observo sua barba.
seu olhar melancólico.
sua tez acentuada.
a fina elegância de um traje que não compactua com sua poesia.
É para ti que eu canto esta canção.
Canção de mim mesma?
Me deite na relva.
Me deixe vadiar.
Só não permita que ela cubra meu corpo e que lá eu permanece etérea, eterna.
é para a vida que você cantou.
e é dela que eu necessito.
"Pois depois de partir não vamos mais parar"